Biografia

Allan Sieber (Porto Alegre, 1972) é artista plástico, cartunista e roteirista.

De 1999 a 2014 manteve a Toscographics Desenhos Animados, estúdio sediado no Rio de Janeiro. De 2005 a 2017 publicou as tiras “Preto no Branco” e “Bifaland, a cidade maldita” na Folha de S. Paulo.

Colabora/colaborou com as revistas Playboy, Sexy, Piauí e Le Monde Diplomatique Brasil.

Expôs no Brasil, Argentina, Peru, Portugal e França.

 

Allan Sieber no Instagram: @allansieber

Twitter: @fakeallansieber

Facebook:  https://www.facebook.com/allansieber/


Textos sobre Allan Sieber

O poeta mente, como disse o poeta.
Allan Sieber faz tudo parecer cruel e deprimente.
Até o vermelho e o amarelo, cuja vibração agita as fachadas de fast food e ativa nossa vontade de gastar dinheiro em gordura animal, ele consegue transformar em energia negativa.
Um alquimista que transforma pastel oleoso e aquarela em chorume.
Solidão e amargura serão suas fiéis companheiras na longa estrada da vida.
Etc.
Mas não acreditem em nada disso.
É tudo uma hábil manipulação.
Dos materiais plásticos e de nossas fraquezas.
Allan Sieber é mestre em misturar os ingredientes necessários para criar em nós esse buraco na alma, essa chaga na mente, esse desânimo visceral.
E ativar nossa necessidade de comprar fibra de celulose e pigmento.
Maldito.

Fabio Zimbres
*Texto para exposição “Racionamento de cores”, 2013


“Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou”
Sergio Sampaio

Allan Sieber virou artista. E adentra o campo da Arte munido da História (além das armas de Jorge, é claro!).

De sua História pessoal traz a intimidade com o ofício do pai – desenhista e caligrafista de propaganda em eras pré-computador ou Letraset, muito antes desta atuação ser chamada de marketing. Do convívio com esse país das maravilhas de canetinhas, papéis, penas, possibilidades, surge a paixão pela tipologia como veículo não só da palavra que serve ao pensamento, mas do grafismo que – acima de tudo – é imagem.

“Ora”, você me diria, “mas ainda estamos na linguagem do cartum”.

Caríssimo, linguagens são linguagens, apenas ferramentas – como serrotes, alicates ou chaves – que se prestam a quaisquer atividades humanas. Nesse câmbio de atuações, do cartum para a arte, o sujeito deste texto realiza mais uma operação da tal História pessoal: se joga do panteão dos ogros politicamente incorretos, persona estabelecida (e consagrada) por sua tradicional atuação profissional para cair no pântano dos comuns, expondo através de seus desenhos, pinturas e colagens a fragilidade da tal da Humanidade.

Como fatia da Humanidade, para além do pessoal, Allan produz sua obra com o que encontra pelo caminho – embalagens, velhas revistas, bulas, a banalidade material do cotidiano. Usando da permissão da História da Arte, em momentos abandona a representação para usar a coisa em si.

Ao rir dele mesmo, com alguma doçura e fluoxetina, nosso sátiro chora. E, neste momento, cuidado!!!, pois ao se expor, Allan Sieber também fala de mim.

E de você.

Claudia Hersz
janeiro de 2018

 


A FABULOSA PINTURA DE ALLAN SIEBER*

 

– Esqueçam meu passado! Rasguem meus livros, queimem meus gibis! Maldito crachá eterno de cartunista que só me sabota! Ouve bem: Não escreve que sou cartunista!

Foi assim, aos brados, que Allan Sieber me recebeu assim que adentrei seu estúdio, numa pacata vila entre Copa e Ipanema, bem pertinho do atelier do finado Millor na praça General Osório e por onde quase podemos ver Jaguar indo beber no Marimbás (quando ele bebia) . Ops, já comecei mal, citando dois cartunistas. Mas como o Allan achou que eu seguiria suas coordenadas? A petulância…

Pois bem, acho que ele está redondamente enganado nessa histeria em renegar seu passado(?) de cartunista em prol de uma nova carreira como pintor. Minha educação gráfica se deu justamente com o cartum, em jornais de humor como O Pasquim e Planeta Diário. Não vejo conflito algum ou muito menos “esquizofrenia” como teme Allan em busca de novos horizontes.

– Esse pessoal das artes plásticas me olha torto porque sempre trabalhei com humor, porque sou “cartunista”! Acham que minha pintura é uma espécie de hobby ou algo tão vagabundo quanto!

Bom, hobby posso assegurar que não é, pois vi dezenas de telas pintadas esse ano. Aliás, no não muito distante 2016, foi no meu estúdio que Allan expôs suas primeiras pinturas, feitas atrás de posters que ele tinha nas paredes do seu estudio. Era Eucatex mas preferimos chamar de “Acrilica em madeira” na ocasião. Acho que foi ele que insistiu nessa denominação, não lembro bem. “Agora sem as mãos”, se chamava a pequena individual relâmpago. Chovia, mas mesmo assim foi bastante gente e conseguimos vender uns quadros.

De lá pra cá Allan pintou muito mais , perdeu alguns empregos e amigos, se separou e passou a morar no seu estúdio, que ele chama de bunker. Recentemente, numa jogada de antimarketing de gosto duvidoso, abriu sua “galeria” em um dos cômodos da casa, “A Hostil Carioca”. Sempre fazendo amigos.

Nessa “Não fui eu” temos telas onde ele escreve bastante e desenhos onde escreve mais ainda. Se o intuito era fazer as pessoas esquecerem seu passado de cartunista-que-escreve-em-balões, o plano não deu muito certo.

Sobretudo Allan se mantém na resistência, afrontando o politicamente correto nesses tempos neopentecostais onde uma simples flatulência  já é caso de policia. Nisso o artista se inscreve numa tradição de grandes mestres lobos solitários, pontos fora da curva como Robert Crumb, confesso mestre dele desde sempre. Pois se Crumb tem retrospectiva gigantesca no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris e é representado por uma galeria do porte da David Zwirner, porque Allan não pode migrar para o grand monde das artes plásticas? Allan é um Crumb tropical. Talvez Allan Sieber seja o maior inimigo de Allan Sieber. “Livre como um taxi” é uma frase que me vem a cabeça agora. Há controvérsias sobre o que Millör queria dizer com essa frase. Entendo que a coisa pior para um taxi é estar livre , desocupado. Um desconforto com a liberdade: só almas muito atormentadas sentem isso.

Em “Fui eu sim” também tem uma sessão de “Proibido para menores” onde as turminha do MBL podem fazer a festa devido ao conteúdo semipornográfico. Não é coisa para colocar na sala de estar, mas, quem sabe no banheiro? Outro paralelo com R. Crumb, a obsessão pelo ato sexual e os embates em torno dele. Talvez a mais singela obra de toda a exposição seja uma sequencia de 4 fotos da própria glande do artista pintada com diferentes carinhas, quase emoticons, “Paufies #01 – #04”. Sim, eu tive que ver isso para escrever esse texto, senhoras e senhores…

Eu ia falar algo sobre Deleuze, vórtices e coisas profundas, mas acho que não precisa. É isso, não atirem no mensageiro.

Raul Mourão, outubro de 2018

* Texto de apresentação da exposição “Fui eu sim” na galeria Sancovsky, SP, em outubro de 2018